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Ziadora Greenleaf: Agente Secreta
Theodore Silverfern

ChatGPT Image Apr 3, 2025, 06_10_19 PM.png

Capítulo 1

Ziadora Greenleaf se perguntou se sua mãe já tinha ficado espremida dentro de um duto de ventilação, esperando a hora certa para derrotar uma criatura maligna. A resposta apareceu sozinha na cabeça da Zia: com certeza!

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— O escritório fica no fim do corredor, à esquerda — sussurrou Sarah. A menina apontou pelas frestas do duto para uma grande porta preta. — Vamos entrar antes que os guardas voltem.

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Sarah era a comandante. Tinha onze anos, dois a mais que Zia. Zia ainda não conseguia acreditar na própria sorte — essa era sua primeira missão, e ela estava fazendo dupla com Sarah há quase três meses. Finalmente, o grande dia tinha chegado. Mas, naquele momento, as duas estavam espremidas com dor dentro de um duto de ventilação.

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— Pronta? — perguntou Sarah.

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Elas eram a melhor equipe de todas. Sarah era esperta e engraçada. Zia era rápida e ágil. Juntas, nenhuma missão era grande ou difícil demais. Além disso, Sarah e Zia guardavam dois segredos gigantescos.

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— Sempre pronta! — disse Zia, sorrindo para sua melhor amiga.

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O primeiro segredo era que as duas meninas eram, na verdade, agentes secretas. Espiãs. E estavam prestes a capturar um duende terrível e nojento que fingia ser o presidente do maior banco de Chicago. Duendes adoravam dinheiro — e faziam qualquer coisa para conseguir mais. E esse duende, chamado Yeego, era um dos piores. Mas, primeiro, elas precisavam sair daquele lugar apertado.

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— Bolsinhas a postos — disse Sarah.

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Sarah puxou uma bolsinha feita de folhas verdes cintilantes. Zia desencaixou a dela. As duas pegaram algo que parecia casca de árvore. E era mesmo casca — só que não de uma árvore qualquer. Era chamada de Casca de Zinfandel, e tinha poderes muito especiais.

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— Vamos logo com isso — disse Zia, fazendo careta.

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As duas seguraram a casca sobre a língua e morderam. O gosto amargo desceu queimando. Zia sentiu o corpo vibrar como uma abelha gigante. E então, encolheu — do tamanho de uma menina para o tamanho de uma ervilha. Mas só tinham alguns segundos para agir.

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— Vai, vai, vai! — guinchou Zia, com uma voz tão pequena quanto seu novo tamanho.

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Zia e Sarah correram pela abertura do duto. A grelha de metal era agora tão grande que parecia que estavam passando por debaixo de uma trave de futebol. No corredor, as duas pararam para respirar. Zia bagunçou o cabelo. Era curto, roxo e espetado como um porco-espinho. Zia sentiu a vibração de novo. E então voltou ao tamanho normal — uma menina de nove anos.

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— Parece mágica — brincou Sarah.

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Zia piscou para ela. Esse era o segundo grande segredo. Além de espiãs, Zia e Sarah eram membros da tribo dos Fae. Outros as chamavam de fadas. Mas os Fae não eram como aquelas fadinhas de histórias infantis, com vestidos brilhantes e varinhas. A tribo Fae não era “mágica” de verdade — não exatamente. Eles viviam escondidos em florestas secretas, onde cresciam plantas mágicas. Desde bebês, os Fae aprendiam como e quando usar essas plantas.

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— Certo, Zia. Yeego está naquele escritório — murmurou Sarah, apontando para a porta preta no fim do corredor. — Hora de concluir a missão!

​

A Madrinha tinha dado a ordem: Zia e Sarah deviam encontrar Yeego e acabar com seus planos malignos. Zia estava determinada a fazer sua primeira missão dar certo. Queria ser uma heroína, como a mãe. Além disso, Zia tinha feito uma amiga pela primeira vez na vida. Ela finalmente sentia que pertencia a algum lugar.

​

— Você merece a honra, Zia — sussurrou Sarah, já paradas diante da porta. — Vai lá.

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Sarah passou para Zia um par de algemas feitas de cipó Fae — se conseguissem prender aquilo no duende, ele perderia todo o poder. Zia abriu a porta e disparou para dentro. Sentia Sarah logo atrás. Um homem muito alto e largo estava sentado atrás de uma mesa de madeira.

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— Mãos para cima, Yeego! — gritou Zia, levantando as algemas. — Você está preso!

​

Mas Yeego não levantou as mãos. Em vez disso, riu. E, diante dos olhos apavorados de Zia, o rosto dele começou a borbulhar como sopa quente. A pele humana derreteu, revelando uma cara horrível, cheia de caroços e da cor de vômito. Zia viu uma sombra se mover atrás da porta. Mas era tarde demais.

​

— Zia, me ajuda! — gritou Sarah.

​

Outro duende segurava Sarah com braços grossos como troncos. Yeego — agora todo amarelo — lançou um olhar cruel para Zia. Seus lábios verdes e babados faziam barulhos nojentos, como se estivesse falando e comendo ao mesmo tempo.

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— Bem-vindas, minhas queridas fadinhas.

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Zia quase engasgou de surpresa. Os lábios de Yeego se curvaram num sorriso terrível.

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— Acham mesmo que duas crianças-Fae poderiam me deter? A mim, o grande Yeego?

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Ele se recostou na cadeira, como se estivesse confortável. O duende que segurava Sarah riu. Zia congelou. O plano era usar o elemento surpresa. E agora? Sua mente parecia pesada e molhada. Zia, faça alguma coisa!

​

Ela enfiou a mão na bolsinha. Mas Sarah balançou a cabeça. Depois sussurrou, tão baixinho que nem os duendes poderiam ouvir:

— Não consigo alcançar minha bolsinha. Joga a sua. Confia em mim — eu sei o que fazer.

​

Zia ficou chocada. Bolsinhas Fae eram sagradas. Qualquer bolsinha roubada explodia numa bola de fogo. Só podiam ser entregues de livre vontade — e mesmo assim, era raríssimo alguém abrir mão de uma. Mas aquela situação não era nada normal. Sarah assentiu, encorajando Zia.

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— Um. Dois — sussurrou Sarah.

​

De repente, ela se remexeu e conseguiu soltar uma das mãos.

​

— Três!

​

Zia desenganchou a bolsinha e a lançou. Ela voou direto para as mãos estendidas de Sarah. A menina sorriu. Mas, para surpresa de Zia, o duende que segurava Sarah também sorriu. Yeego gargalhou ainda mais alto. O estômago de Zia afundou.

— Excelente trabalho, Sarah — disse Yeego. — Pode soltá-la, Gorge.

​

O duende menor soltou Sarah. Zia ficou boquiaberta. Sarah caminhou até a mesa do Yeego. O peito de Zia apertou, como se faltasse ar. E, para horror total, Sarah entregou a bolsinha para o duende. Yeego a pegou — e a bolsinha não explodiu. Zia tinha permitido que a magia Fae fosse entregue a um inimigo.

​

— Sarah! — gritou Zia. Sentia os pés colados ao chão. — O que... o que você tá fazendo?

​

Sarah sorriu de um jeito cruel. Yeego olhou de Sarah para Zia e gargalhou. O duende tirou um saco de ouro do tamanho da cabeça de Zia. Sarah girou alegremente. Esticou a mão para pegar o dinheiro, mas Yeego o puxou de volta.

​

— Sua recompensa vem depois — disse Yeego. — Quando a sua amiguinha for capturada.

​

Sarah fez beicinho. Depois virou-se para Zia. Os olhos estavam afiados e perigosos, como os de um lobo prestes a atacar.

— Sem problema, chefe — disse Sarah. — Ela não tem mais magia. Agora, a Zia é só uma menininha de nove anos, assustada.

Mas essas palavras despertaram algo dentro da Zia. Porque Sarah estava errada. Ela ainda tinha um pouco de magia escondida — literalmente na manga. Sua mãe tinha ensinado esse truque. Valeu, mãe, pensou Zia.

​

Antes que Sarah ou os duendes se movessem, Zia enfiou a mão num bolso secreto costurado na manga da blusa. Tirou um fio prateado de Capim-Nuvem e um pedacinho de Casca de Zinfandel. Yeego parou de rir e a encarou. Mas Zia olhava para a janela atrás dele. Estava entreaberta, e Zia conseguia ouvir o trânsito barulhento de Chicago lá fora.

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— Peguem ela! — rugiu Yeego.

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Sarah pulou na direção de Zia. Mas ela se abaixou e correu para a mesa. Gorge tentou acertá-la com o braço, mas Zia rolou num mortal e pulou direto sobre a mesa. Yeego uivou. Seu punho voou na direção de Zia. Mas ela já tinha enfiado o capim e a casca na boca. Sentiu o vento da pancada passando por cima da cabeça.

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— Onde ela foi parar?! — chiou Yeego.

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Pequenina de novo, Zia correu pela mesa e saltou em direção à janela. Por sorte, o Capim-Nuvem finalmente fez efeito. Ela agora planava pelo ar. Asas brotaram das costas e a carregaram em direção à abertura.

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— Fechem a janela! — gritou Sarah. — Ela tá fugindo!

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Zia forçou as asas a baterem mais rápido. Mais rápido! Sentiu o ar ondular enquanto a janela se fechava. Ia ser esmagada! Com seu último pingo de força, Zia disparou pela abertura — bem no momento em que a janela se fechava com um estrondo atrás dela.

ChatGPT Image Apr 8, 2025, 08_34_47 AM.png

Capítulo 2

Zia andava sem rumo pela Floresta Fae. Aquele era o seu lar. Ela tinha crescido ali, escondida no extremo norte. Humanos nunca achavam esse lugar mágico — em volta da floresta, cresciam flores roxas encantadas. Para Zia, o perfume era suave, quentinho, como um travesseiro aconchegante. Mas para humanos? Um cheiro esquisito, que fazia lembrar que tinham deixado o forno ligado ou a porta aberta.

​

Ela achava que voltar pra casa seria maravilhoso. Mas agora... não sentia nada. Parou e olhou as pontes de cipó penduradas entre os pinheiros gigantes. Eram feitas de cipós vinhas vermelhoas entrelaçadoas. Três Fae idosas atravessavam devagar uma das pontes, indo em direção a uma casa no topo de uma árvore. Uma delas parou, olhou lá pra baixo, bem pra Zia, e começou a cochichar com as outras. Zia não entendeu tudo, mas seu coração apertou.

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— Greenleaf… a bolsinha… a Madrinha… que decepção…

​

Desde que tinha voltado da missão sem troll e sem bolsinha, ela ouvia murmúrios por todo canto. Será que estavam comentando sobre seu fracasso? Sentindo pena? Ou achando que ela nunca seria tão boa quanto sua mãe? Zia não sabia o que doía mais.

Já fazia duas semanas desde que fugira do banco em Paris. Mesmo com o tempo passando, ela ainda não entendia como tinha conseguido escapar. As lembranças vinham como borboletas — e quando tentava pegar, puff… já tinham voado.

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Ao longe, ela viu um arbusto com frutinhas vermelhas brilhantes. No reflexo, levou a mão até o cinto pra pegar sua bolsinha — queria repor o estoque de Frutas-Fagulha. Depois lembrou. Suspirou. Ainda esquecia que não tinha mais bolsinha. Sem ela, Zia se sentia exposta. Como sair do banho e perceber que não tem toalha por perto.

​

— Ei, Greenleaf!

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Zia se virou assustada. Um garoto chamado Martin estava atrás dela. Ele tinha sido colega dela na escola academia da FSA. Era mais velho, mas tinham se formado juntos.

​

— O que foi? — respondeu Zia, meio irritada.

​

Martin tinha aquele sorrisinho de quem achava que era o máximo. Os dois nunca se deram bem. Ele odiava que Zia tivesse se saído melhor que ele nos testes da FSA. E ela achava ridículo que ele se achasse especial sem fazer nenhum esforço.

​

— A Madrinha quer falar com você — disse ele.

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Aquele sorriso… Zia sentiu o estômago revirar. Martin deu de ombros e virou as costas.

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— Espera! Por quê? O que ela quer?

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Martin parou, mas nem se virou.

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— Sei lá, Greenleaf. Talvez te botem pra tirar puxar erva daninha na escola da FSA.

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Zia fez careta e mostrou a língua. Mas ele já tinha sumido. Babaca, pensou. Mas, mesmo assim, o coração dela estava disparado. Será que iam expulsá-la da FSA? Desde pequena, ela sonhava em ser agente. Como sua mãe. O que será que ela pensaria de mim agora?

​

Zia apertou o passo em direção à Árvore Grande. SuaAs mãos estavam suadas.

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— Oi, Zia! Vai treinar hoje?

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Ela se virou. Voya, outra aluna da academia, acenava do campo de treino. Enormes monstros-cipós andavam pela clareira como se fossem vivos. Voya se abaixou, rolou e pulou nas costas de um deles. Zia deu um tchauzinho tímido.

​

— Hoje nNão hoje. A Madrinha me chamou.

​

Voya fez que sim e continuou a batalha. Atrás dela, agentes e aprendizes corriam, voavam e lutavam com os monstros de folhas. Zia gostava da Voya e de alguns outros, mas não tinha muitos amigos de verdade. Treinar era seu melhor amigo — até Sarah aparecer. Zia se forçou a seguir em frente, até a sede da FSA, conhecida como a Árvore Grande.

​

— Pode entrar!

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A Madrinha estava esperando. Mas Zia ficou parada diante da porta gigante, esculpida direto no tronco da árvore.

— Pode vir, Ziadora Greenleaf. Sei que está aí — disse a voz firme da Madrinha.

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Zia se encolheu. A Árvore Grande era imensa — cem metros de altura, cinquenta de largura. Ela respirou fundo e entrou. Luzes feitas de flores Fae iluminavam o salão redondo. O ar cheirava a maçã com canela. Normalmente isso confortaria Zia. Mas hoje o estômago dela estava embrulhado.

​

— Sente-se, Ziadora — disse a Madrinha, apontando uma poltrona feita de musgo e folhagens.

​

Zia queria protestar, mas obedeceu. Ela odiava que usassem seu nome inteiro. Só a mãe podia chamá-la assim. Ela preferia Zia. Ou melhor ainda: agente Greenleaf — como sua mãe.

​

— Sua missão foi um fracasso total — disse a Madrinha. O rosto dela era cheio de rugas, mas sua voz era firme. — Yeego continua solto. Uma bolsinha Fae foi perdida. E uma agente não voltou.

​

Zia sentiu o chão sumir. Ela amava a FSA. Era seu sonho. E agora parecia que tudo desmoronava. Queria afundar naquela poltrona de musgo e desaparecer.

​

— Olhe pra mim, Ziadora.

​

Zia levantou os olhos. E, para sua surpresa, a Madrinha não parecia brava.

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— Mesmo assim, uma agente mirim de nove anos conseguiu sobreviver — contra todas as probabilidades. Depois que foi traída pela parceira, teve inteligência e coragem pra escapar.

​

Zia sentiu o peito se aquecer.

​

— Então… ainda sou uma agente da FSA?

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A Madrinha suspirou. Como chefe da famosa Agência Secreta Fae, ela era poderosa. Mas agora parecia cansada.

​

— Sim, agente Greenleaf. Todos cometem erros — disse ela com doçura. Depois sua voz ficou mais dura: — Mas entregar uma bolsinha Fae para o inimigo? Inaceitável. A FSA protege o mundo da magia sombria. Nunca entregamos nosso poder ao mal.

Zia sentiu como se estivesse numa montanha-russa.

​

— Desculpa, Madrinha. Prometo que nunca mais vai acontecer.

​

— Ziadora, um agente precisa saber em quem confiar. Nove em cada dez vezes… é melhor não confiar em ninguém!

Só de pensar na Sarah, o estômago de Zia revirava. Como tinha sido tão ingênua? Achava que tinha encontrado uma amiga. Ela engoliu as lágrimas, respirou fundo.

​

— É pra eu voltar e capturar o Yeego? E… a Sarah também?

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A Madrinha balançou a cabeça.

​

— Não, Ziadora. Com uma bolsinha Fae, Yeego está ainda mais perigoso. Essa missão agora é pra agentes com mais experiência.

Zia sentiu vergonha… e também um certo alívio. A Madrinha puxou algo da gaveta e se aproximou. Zia se levantou num pulo.

​

— Você ainda é jovem, Ziadora. Talvez essa missão tenha sido cedo demais. Normalmente só aceitamos alunos com onze anos.

​

Mas você passou nos testes com excelência — o que não é surpresa, sendo filha de quem é.

​

Só de pensar na mãe, as pernas de Zia tremeram. A Madrinha estendeu uma bolsinha. Zia a pegou com cuidado. Era leve como pena, linda, feita de folhas vermelhas e roxas. O coração de Zia disparou. Ela conhecia essa bolsinha.

​

— Era da sua mãe, Ziadora. Encontraram na casa onde ela sumiu. É hora de passar pra você.

​

A mãe de Zia — a primeira agente Greenleaf — tinha desaparecido dois anos antes, em uma missão secreta. Zia entrou na academia mais cedo que o normal, sonhando seguir os passos dela. E, lá no fundo, ainda tinha esperança de reencontrá-la um dia.

— Tenho uma nova missão pra você. Em Leadville, Colorado. Só você pode cumprir.

​

Zia sentiu o mundo girar. Já tinha ouvido falar da magia selvagem nas Montanhas Rochosas. Leadville era uma cidadezinha escondida nas montanhas — famosa no mundo mágico.

​

— Mas por que eu? O que eu tenho de especial?

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— Ziadora… você vai voltar pra escola.

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— O quê?! — Zia quase gritou. — Mas eu já terminei todas as provas!

​

A Madrinha soltou uma risadinha.

​

— Escola humana, querida. A FSA detectou magia suspeita em uma escola de Leadville.

Zia ficou de queixo caído. A Madrinha apontou pra bolsinha da mãe.

​

— Pegue algumas plantas na floresta. Prepare tudo. Amanhã, você começa no terceiro ano.

ChatGPT Image Apr 8, 2025, 08_46_53 AM.png

Capítulo 3

O sinal tocou. Zia apertou a mochila contra o peito enquanto seguia a fila de alunos entrando na sala. Dentro da mochila: dois cadernos novinhos, alguns lápis... e a bolsinha verde e roxa da mãe. Os outros alunos riam, conversavam alto, faziam barulho. Zia prestava atenção em tudo. Uma boa espiã sempre escuta o ambiente.

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— Muito bem, turma, vamos nos sentar! — disse uma voz doce e animada. — Espero que tenham tido um ótimo fim de semana!

​

Todos correram para os seus lugares... menos Zia. Ela ficou parada, sozinha. Olhou para a professora. Seu nome era Srta. Stevens. Ela era alta, com longos cabelos negros e brilhantes. Usava um colar com uma pedra azul-clara que parecia gelo. Uau, pensou Zia. Sua nova professora era linda.

​

— Temos uma nova aluna hoje — anunciou Srta. Stevens, olhando direto para Zia. Mesmo sendo uma agente treinada, Zia sentiu o rosto ficar quente. — Você quer se apresentar?

Zia engoliu em seco. Todos estavam olhando para ela.

​

— Oi… meu nome é Zia. Eu… acabei de me mudar pra cá.

​

— Oi, Zia! — respondeu a sala inteira em coro.

​

Srta. Stevens sorriu para ela e apontou para uma carteira no fundo da sala.

​

— Bem-vinda à Escola Primária de Leadville, Zia. Pode sentar ali, ao lado da Sadie e do Wesley.

​

Zia caminhou até o lugar e se sentou. A menina à sua esquerda abriu um sorrisão.

​

— Zia é um nome muito legal! — disse Sadie. — E seu cabelo é incrível!

​

Zia tocou nos fios. De manhã, ela tinha mastigado uma folha especial dos Fae — isso permitia mudar o visual. Para essa missão, escolheu cachos azul-céu. Olhou ao redor. Ufa — outras crianças também tinham cabelos coloridos.

​

— Ah, obrigada — respondeu Zia. Ela observou Sadie: pele escura como chocolate, cabelos castanhos e olhos grandes e gentis. Sadie pParecia legal. Zia precisava agir como uma menina comum de nove anos... mas não tinha certeza de como fazer isso.

​

Ela arriscou:

— Eu gostei da sua camiseta, Sadie.

​

Sadie sorriu e olhou para suas listras azuis. Zia relaxou. Primeiro elogio: missão cumprida. Então se virou para o menino à direita. Ele tinha cabelo bem curtinho e olhos cor de mel. Olhou para Zia ao mesmo tempo... e franziu a testa. Aquele menino, Wesley, dava um arrepio esquisito nela. Nada agradável.

​

— Abram seus cadernos de matemática e terminem a atividade de ontem — disse Srta. Stevens.

​

Ela entregou uma folha novinha para Zia e bateu de leve na mesa de Wesley.

​

— O Wesley também é novo na escola. Ele chegou faz algumas semanas — ela olhou para os dois. — Wesley, como você terminou o trabalhoa folha ontem, pode ajudar a Zia a começar?

​

Zia assentiu. Matemática não era seu forte. Os números escapavam dela como se fossem peixes escorregadios. Talvez Wesley pudesse ajudar. Mas, em vez disso, ele apenas resmungou e apontou friamente para os erros.

​

— Você nem sabe multiplicar? — disse ele com desdém.

​

Zia cerrou os dentes. Quando o sinal tocou, ela já estava de mau humor. Por que Wesley a tratava tão mal? Ela olhou ao redor. Outras crianças também estavam com dificuldade — três até dormiram sobre a carteiramesa. Mas só Wesley causava aquele sentimento estranho dentro dela.

​

O sinal tocou de novo.

​

— Zia, pode ficar um minutinho? — pediu Srta. Stevens.

​

Zia ficou parada perto da porta enquanto os outros saíam. Sadie lhe deu um sinal com o polegar e foi embora sorrindo.

​

— E aí, como você está no seu primeiro dia? — perguntou Srta. Stevens, se abaixando para ficar da altura dela.

​

— Ah… tudo bem — disse Zia, tentando parecer uma aluna comum, não uma espiã disfarçada. — É só que tem muita coisa nova.

​

— Eu sei que mudar de escola pode ser difícil. Quando eu era pequena, mudei várias vezes também — disse Srta. Stevens. Seus olhos verdes brilhavam com gentileza. Ela passou os dedos pelo pingente azul do colar. — Zia, estou aqui pra te ajudarvocê. Se precisar conversar ou de qualquer coisa, é só vir falar comigo, tá bem?

​

Zia sorriu de volta. Srta. Stevens era realmente legal.

​

— Obrigada. Eu vou lembrar disso.

​

— Você é uma menina especial, Zia.

​

Srta. Stevens tocou de leve no ombro dela. Zia sentiu os olhos ficando pesados. Depois daquela matemática difícil e do jeito esquisito de Wesley, ela estava exausta. E ainda teve a viagem noturna do bosque Fae até Leadville. Tudo que queria era comer. E dormir.

​

— Vá pra cantina. Aposto que você está morrendo de fome — disse a professora.

​

Assim que Zia entrou no refeitório, Sadie acenou para ela. Estava sentada sozinha. Zia pegou uma bandeja e foi até lá. Isso deixou seu coração quentinho — ela sabia como era estar sozinha. Ela amava o povo Fae, mas treinava tanto que quase não tinha amigas. Só… Sarah. Traidora, pensou Zia com amargura.

​

— O que a Srta. Stevens queria? — perguntou Sadie, com a boca cheia de chili.

​

Zia encarou sua tigela, salivando. Se obrigou a responder antes de atacar a comida.

​

— Ela só foi legal. Disse que posso procurar ela se precisar de alguma coisa.

​

Então deu a primeira colherada no chili. Estava picante… e delicioso. Zia nunca contaria pros outros Fae, mas… ela amava comida humana! Queijo. Biscoitos. Bolo. Chocolate. Tudo!

​

— A Srta. Stevens é ótima — disse Sadie, embora não parecesse empolgada com o chili. Zia pensou: seria estranho terminar o pratoa porção dela também? — Ela conversa com cada aluno toda semana, só pra saber como a gente tá. Nenhum outro professor faz isso.

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O sinal tocou de novo. Zia engoliu o resto do chili num piscar de olhos. Sadie ficou boquiaberta e empurrou a tigela pra ela. Zia riu e devorou a porção da amiga também. Nesse momento, Wesley passou por perto. Lançou para Zia um olhar sombrio. Sadie se levantou para devolver as bandejas.

​

Wesley parou, se virou, e sussurrou só pra ela ouvir:

— Fique fora dos meus assuntos… fada.

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